Foto pink

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domingo, 12 de abril de 2009

Primeira Carta de Amor

Como o Alexandre era legal! Ele era diferente dos garotos que só brincavam de carrinho e bola. Ele nunca bateria com um bastãozinho de brinquedo em minha cabeça, como o menino da outra escola fez. Ele podia negar-se a brincar de Barbie, mas sempre sugeria uma brincadeira legal.
Um dia resolvi declarar todo meu amor a ele. Peguei um papelzinho rosa do bloco de notas da minha mãe e comecei a escrever. Aquele quebra-cabeça de sílabas era complicadíssimo. Meus pais estavam recebendo visita, então eu evitava descer as escadas e perguntar “Mãe, pai, como eu escrevo ’XAN’?”.
Consegui fazer só umas quinze perguntas para escrever uma carta com doze palavras.
Quando finalmente terminei, tive uma das atitudes mais corajosas da minha vida. Fui até minha mãe, pedi para que ela não contasse nada para o papai, então pedi para ela ler e entregar para a mãe do Alexandre quando a encontrasse.
Hoje já não sou capaz de dizer “Te amo” sem ouvir essa frase antes. Os anos tornaram esse quebra-cabeça impossível. Posso escrever cartas de amor, mas tenho de queimá-las em seguida.
Talvez essa memória seja só uma das mentiras que existem em minha cabeça. Não sei se essa história é real. Por que uma menininha tímida e pequena entregaria uma carta de amor para o amiguinho?
Estudei com o Alexandre quando tínhamos aproximadamente três anos, aos quatro eu mudei de escola e perdemos o contato. Com cinco conheci as letras do alfabeto, aos seis aprendi a fazer sílabas e só aos sete aprendi a escrever.
Ao olhar para trás e analisar o tempo real, concluo que o tempo da minha memória não é confiável. Nunca escrevi um bilhete de amor para o Alexandre, eu mal sabia o que era letra naqueles tempos. Mas a imagem daquela garotinha descendo as escadas e perguntando “Mãe, como de escreve ‘HÃ’? E como se escreve ‘MO’?” está em minha cabeça. Talvez ela só exista para eu acreditar que um dia eu pude dividir o meu interior com alguém.

Um comentário:

Marcelo disse...

Ei, fiquei com ciúmes!!! Brincadeira, não fiquei não! Esse texto é muito legal, eu adoro ele!