Foto pink

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sábado, 22 de setembro de 2012

Para o garoto do ar

Você menino de vento,
Pisa na terra do chão,
E me faz flutuar meio ao seu ar.
Me permite entrar no mundo de destinos,
me faz esquecer,
que na realidade são só coincidências.

Por que não tenho coragem de aceitar?
Aquilo que é para mim,
Não é para você.

domingo, 9 de setembro de 2012

Sobre o filho da ausência


A AUSÊNCIA exercia sua indiferença enquanto contemplava o tempo/espaço no instante em que o seu filho surge. Ela, meio que por associação dá ao garoto leite e pão. Após ingerir os alimentos a criança cresce imediantamente e toma as formas de um adulto. Então, o homem passa a ouvir as vozes do mundo. Ele olha para seu pai como quem pede as lições para aprender a falar. O pai silencia, é indiferente. O homem parte. Aprende o significado das palavras mundo a fora.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Dedicatória

Te dedico um coletivo de suspiros apaixonados.
Dedico o olhar mais atravessador de almas.
Dedico o sal grosso que saltou dos meus olhos rejeitados.
Dedico o nó que atravessou minha garganta.
Dedico um corpo que por tempos não fui capas de carregar.
Dedico a estreia de minha loucura enrustida.
Dedico meu coração frio, seco.
Dedico minha embriagues.
Dedico minha dança através do tempo/espaço.
Dedico a minha luta.
Dedico os gritos de orgasmos com que presenteei todos os outros.
Dedico meu estômago repleto de gozo desconhecido.
Te dedico minha histeria feminina.

Obrigada por ter me feito mulher. Mas agora eu decidi ser feliz.

Menino (a)


Enquanto pedalava o mais rápido que conseguia, André olhava para os olhos de sua Mãe e entendia o significado da palavra carinho. O mormaço mineiro, não o desestimulava a correr com o seu bibi. A recompensa era absolutamente válida. Um abraço eufórico e caloroso da Mãe. Eventualmente seu Pai participava desses momentos. O Pai era um homem sério, de poucas palavras. Ele costumava fotografar o filho e a esposa brincando, e depois voltava para casa. A sessão de fotos ocorria umas quatro vezes ao ano, e estes eram basicamente os momentos de afeto que o filho compartilhava com o Pai.
André amava muito seu pai. Mas o sentimento que tinha pela Mãe era uma espécie de idolatria.
Enquanto o Pai estava no trabalho e a Mãe preparava o jantar, o passatempo do garoto era abrir o guarda-roupa da Mãe e usar todos aqueles adereços que lhe eram mágicos.  Vestido com os panos da Mãe, usando seus perfumes e bijuterias André sentia que era capaz de transformar o oxigênio do universo em suspiros de amor e carinho. Era a sensação de ser um verdadeiro super-herói.  Esse momento de contato com o universo materno era um de seus grandes segredos. Não tinha consciência do que aquilo significava, mas era um momento que o garoto presava por guardar como se fosse somente dele.
Na adolescência o garoto já tinha como parte de sua alma essa paixão pelo universo feminino. Os perfumes, as cores, os brilhos. Era uma sinestesia que adentrava seus sentidos e o fazia flutuar. Esse seu jeito leve de homem com alma de garota fez com que o rapaz se aproximasse de Rafael. Rafael foi seu primeiro amigo. Seu primeiro confidente. Essa amizade fez com que André percebesse que todos os seus sonhos poderiam se realizar. Os dois começaram a trabalhar juntos. Foram acumulando todos os adereços femininos possíveis. Vestidos, saias, glitter, sutiãs, baton, rímels ficavam escondidos na parte de cima do seu guarda roupa. Um grande sonho. Um grande segredo.

Essa cumplicidade fez com que o desejo de se manter perto de Rafael fosse crescendo progressivamente. Eles sempre se encontravam para ouvir Madonna e sair para fazer compras. Momentos preenchidos por um desejo quente. Um dia os dois se olharam instintivamente. Beijaram-se com a fome que só dois machos são capazes de acumular. Neste dia André finalmente entendeu a sua essência.
 Em uma tarde de sexta-feira nublada, André chegou da escola e se deparou com seu Pai sentado na poltrona da sala. O homem o fitava dos pés a cabeça, como quem tenta entender algo. Palavras duras. “Você vai para o exército”. O garoto respondeu que tinha planos diferentes e seguiu para o seu quarto. Susto, vergonha, medo. O Pai descobrira o arsenal feminino do armário de cima.  O quarto ainda tinha o cheiro e calor do fogo. Todos aqueles encantos haviam se transformado na mais amarga cinza.
André saiu do quarto atônito. Olhou para o Pai, esperando que o homem dissesse algo. Parecia que pela primeira vez o Pai fitava o garoto olho a olho. O ele não disse nada. Levantou-se da poltrona. Se afastou devagar. Entrou pro quarto,  fechou a porta com cuidado e nunca mais saiu.