Foto pink

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domingo, 12 de abril de 2009

A chama

Essa chama que está queimando os pelinhos da minha perna já faz parte de mim. Mas desde quando e onde?
Agora minha cabeça procura loucamente pela lembrança daquele dia. Mas ela não é única. Não há um documento que o descreva com perfeição.
Ainda bem.
A existência de um arquivo completo, com documentos que narram tudo já vivido, roubaria os prazeres das lembranças.
As lembranças nos tornam diferentes das máquinas. Sentimos, mas não revivemos ou assistimos ao que passou.
Sou tudo o que sinto.
A sensação de algo é a única coisa que não perco nunca. Já as fisionomias, causas e conseqüências vão embora com o tempo.
Agora, minha memória já não registra a intensidade do brilho daquele fogo. Mas o calor daquela chama é o que me faz saber que o dia existiu. A capacidade de ainda sentir tal calor evidencia a influência do acontecimento no que sou.
Eu e Cécile queríamos acender o fogo. Mas o vento que rondava as árvores sempre o levava. Queimávamos e queimávamos folhas de todos os tipos, mas nada do fogo ficar quieto.
Nós e nossos 12 anos precisávamos dele para escolher qual caminho seguir naquela noite. Sua luz não nos ajudou. Mas aquela grande e redonda lua o fez, então conseguimos achar o caminho certo sozinhas.
As marcas que deixamos nas árvores naquela noite já não são profundas. Na verdade são quase invisíveis. Mas sei que elas estão lá, pois as sinto minimamente quando as toco.
Foi naquela tarde, em que sentia que tudo seria impossível sem a chama, que aprendi a me guiar sozinha e deixar minhas marcas. Depois disso, nunca mais fiquei no escuro.

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