Foto pink

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terça-feira, 7 de abril de 2009

Marcas

O medo da morte faz com que todos tenham o desejo de ser eternos. E as marcas que os homens deixam na terra é a conseqüência de tal medo. Letras em árvores, fotografias, cartas... Isso só alimenta nossa fantasia do “para sempre”.
É difícil aceitar que a eternidade é a mais pura mentira de todas. Todas as marcas acabam. Elas podem demorar a chegar ao fim, mas é certo que chegam. E nossas desesperadas tentativas de não cair no esquecimento sempre falham.
As fotos que meus pais tiravam com o pretexto de eternizar meus três anos foram tentativas de marcar tal época. Obviamente essas tentativas não foram bem sucedidas. Não por eles tentarem através das fotos, mas porque toda tentativa falharia eventualmente.
Fotografias ficam guardadas em álbuns e caixas, logo a lembrança do milésimo de segundo que uma foto registra só é ativada quando alguém a procura. Usamos os porta-retratos caso queiramos deixar uma marca mais exposta, mas mesmo assim sempre passamos batido por eles, e, quando passamos a noite fora, nem sequer lembramo-nos daquela imagem que tentamos eternizar.
Além disso, a fotografia muda. O tempo faz com que ela fique verde, amarela e em seguida com traços fraquinhos, e assim a lembrança que esta ativava fica verde, amarela e com traços fraquinhos. Um dia esta fotografia ficará completamente branca, então alguém irá jogá-la fora, o papel vai decompor-se e a marca de tal tempo chegará ao fim.
As letras que escrevi nos Plátanos perto de casa têm a mesma função das fotos, mas elas também não são eficientes. Ontem elas eram profundas, úmidas e esverdeadas, hoje são uma dobra no meio das árvores, secas e marrom-escuras, amanhã não haverá nenhum traço delas.
Os desenhos e as letras das árvores são marcas. Mas essas marcas desaparecem tão rápido! O tronco e os galhos dos Plátanos crescem, e os desenhos vão ficando cada vez mais apertadinhos. Um dia os espaços para eles serão tão pequenos que nenhum homem terá a capacidade de enxergá-los.
Um desenhista de árvores pode reativar uma lembrança sem olhar para seu desenho, ele consegue fazer isso apenas visualizando o lugar em que fez o registro. Mas mesmo assim, o fim das árvores é pegar fogo dentro de uma lareira.
O fogo destrói nossas marcas, o vento ajuda a espalhar suas cinzas e assim somos esquecidos.

Um comentário:

Marcelo disse...

Ei amorzinho, eu sou mó fã deste blog já!!!!